A sogra

Jararaca-ilhoa            Hoje estive pensando e percebi que para mim está muito mais difícil arrumar um namorado. Por quê? _ Sofro de sografobia. Então, ou a mãe do meu eleito tem que ser uma boa sogra, uma santa (coisa raríssima), ou ele tem que ser órfão.

Este meu pavor é muito justificável, isto porque é simplesmente impossível agradar, ou mesmo não desagradar esta criatura tão pérfida.

A sogra, personagem comum nas lendas urbanas mais aterrorizantes, é a maior responsável pelo fim dos relacionamentos de seus respectivos rebentos. Elas não respeitam namoro, casamento, união estável, relacionamento aberto, tudo esta na sua mira ofídica e voraz.

Tudo começa no primeiro contato. Algumas se apresentam como doces velhinhas ou simpáticas senhoras, e você, ingênua, pensa: “_ A mulher que criou o homem por quem me apaixonei, deve ser uma pessoa incrível.” Doce e efêmera ilusão; há aquelas que se mostram sem máscaras já no primeiro encontro. E não há como saber qual o espécime mais perigoso.

Logo cai a pele de cordeiro e mostra-se o belo couro de cobra (como seria bom para fazer um cinto); e não há soro antiofídico para tal veneno. Ela ataca por todos os lados, rápida e fatal como toda serpente. O primeiro e pior ataque é sempre na nossa vaidade; se você está magra, ela dirá que parece doente; se está um pouco acima do peso, ela te encherá de piadinhas de gorda ou na hora da sobremesa com a mesa cheia, a cascavel diz: “_ Querida, você não vai querer, né? Está mesmo precisando evitar doces!”, neste momento trágico, feche os olhos e imagine um belo cinto com a pele dela na sua cintura, isso faz qualquer um se sentir melhor.

O veneno mortal aumenta gradativamente à medida que o relacionamento com o filhinho dela se fortalece. Aí, insinuar que você vai dar o golpe da barriga, ou que o filho dela é muito jovem para um namoro sério, ou o melodrama clássico de que está se sentindo sozinha depois do inicio do namoro (obvio, nem o marido agüenta a surucucu), se tornam uma constante em sua vida. E, pior, são só os primeiros botes viperinos.

Eu não estou exagerando; por experiência própria. Uma vez dormi demais na fazenda de um namorado e quando acordei às 10 h (não era tão tarde assim) a jararaca havia tirado a mesa do café da manhã e eu fiquei com fome até às 15 h. Quase morri àquele dia e lembro que cada vez que eu esboçava um sinal de dor de estômago, podia ver um sorrisinho de prazer naquele rosto diabólico.

Com o tempo as coisas só pioram; as piadinhas, a implicância, as indiretas cruéis, a maneira característica que só elas têm de ignorar solenemente um presente maravilhoso que você escolheu com todo cuidado em mais uma tentativa vã de se aproximar dela. Afinal, algumas pessoas criam serpentes em casa, como animais de estimação, e por amor a gente tenta estabelecer um vínculo como essa espécie de repteis.

E o talento enorme que só uma sogra tem de transformar todas as suas virtudes em defeitos? Assim, se você é religiosa, vira uma beata; se não é, vira pagã; se é inteligente, vira prepotente; se é bonita, vira burra; se é humilde, vira uma “mosca morta”; se é geniosa, vira “uma onça”, e por aí vai. Nada que você fizer será suficientemente bom, você nunca estará à altura do filhinho dela.

Como lidar com essas serpentes que estão intimamente ligadas aos nossos amados? Cara Amiga, você não espera que eu, uma mera mortal, nesta simples crônica, responda essa pergunta que há séculos aflige as mulheres do mundo. Só posso lhes prevenir que não podemos ir desarmadas a uma selva de víboras. Se ela é venenosa, seja pior, nunca, jamais seja “boazinha”, é dessas que elas se alimentam primeiro.

É claro que há raríssimas exceções. Se você teve a sorte de achar um homem órfão ou com uma mãe legal; exceções só confirmam a regra. Se você assim como eu e muitas outras, tem uma legitima “sogra-coral”, torça para que a velha logo estique as canelas, vista o pijama de madeira, encontre o derradeiro descanso, embora o dito popular diga que vaso ruim não quebra. Você também tem a opção de se mudar com ele para outra cidade, outro estado, outro país (quanto mais longe melhor), deste jeito terá paz se não atender ao telefone. Pode ter certeza, manter-se distante é a melhor saída, a única solução, porque sogra é uma criatura tão ruim que nem o diabo quer a dele por perto.

19/06/07

2 Comments

  1. Amei o texto hahaha ai ai, me fez analisar minhas ex sogras e a atual. Acho que a atual deve ser a pior, apesar de não ser tão má. O pior é que não posso trocar mais porque casei, a solução que encontramos foi convencê-la a morar em outro Estado e tem dado certo. Sobre minhas ex sogras, eram bem gentis (tive sorte), inclusive quando uma delas faleceu eu sofri como se tivesse perdido minha própria mãe, o problema mesmo era o fingido do filho que provou não valer nada ao longo do tempo. No geral fui sortuda com as sogras, azar mesmo tiveram todos que se relacionaram comigo porque minha mãe é uma sogra terrível! A amo, mas não posso mentir… é uma megera de fato. A solução pra isso também foi sair do meu Estado. Então estamos longe de ambas as sogras e fica tudo mais tranquilo assim, parece até que o amor aumenta…elas são poodles dóceis ao falar no telefone, uma verdadeira transformação que só a distância e a saudade proporciona. Super recomendo! Hahaha beijos.

    http://www.maiorquepalavras.com

  2. É…Sogras são fogo na roupa…Eu até tive 2, uma morreu cedo, era amável, mas pelo filho que criou nota-se o mal que uma mãe pode fazer. A 2ª, eu soube que morreu há pouquíssimo tempo. Era uma mulher incrível, reconhecia os defeitos do filho e disse para ele: “Não te cases mais! Vc não serve para ser marido!” Bem, tive boas sogras, mas concordo que jararaquice é uma das nossas vertentes de mulherice.

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