Tag dos sete pecados capitais

Peguei a TAG do Meow Books

 

  1. Ganância: qual é seu livro mais caro? E o menos caro?

Os mais caro são as edições especiais e limitadas e maravilhosas da Dark Side Books. (uma das minhas favoritas é a de Psicose)

Os mais baratos são os da coleção LM Pocket, alguns custaram uns R$ 5,00.

  1. Ira: com qual autor você tem uma relação de amor/ódio?

Acho que é o George RR Martin eu gosto da história e da construção dos personagens, mas acho a escrita um pouco áspera, não flui muito bem (ao menos pra mim). Odeio profundamente quando ele mata um dos meus personagens favoritos e quando ele demora quase uma década para terminar a saga.

  1. Gula: que livro você devorou sem vergonha alguma?

Cem anos de solidão e já li varias vezes em edições diferentes e com muito orgulho.

  1. Preguiça: qual livro você tem negligenciado devido à preguiça?

Moby Dick de Herman Melville. Sei que é um clássico, mas ultimamente a leitura tem se arrastado.

  1. Orgulho: que livro tem mais orgulho de ter lido?

A divina comédia, de Dante, é uma leitura difícil devido à época em que foi escrita, é longa e é crucial ler as notas de rodapé para entender muita coisa, mas é um livro lindo.

  1. Luxúria: quais atributos você acha mais atraentes em personagens masculinos e femininos?

Masculinos, homens reais que tem defeitos e qualidades, sensíveis, educados, cultos como o Carlos da Maia no livro do Eça de Queiroz. Também senti muita empatia pelo marido da protagonista de Vox apesar da narrativa dela, haviam pista de que ele não era tão condescendente com o governo.

Femininas, gosto de mulheres fortes que comandam seu próprio destino como a Úrsula do Cem anos de solidão. Gosto muito da June do Conto da Aia e como ela encara a realidade cruel em que vive.

  1. Inveja: que livros você gostaria de receber de presente?

Toda a coleção de True Crime da Dark side.

 

Southernmost – Rumo ao sul

Autora: Silas House – Tradução: Elvira Serapicos

Editora Tag (https://taglivros.com/)

Preço da assinatura mensal aproximadamente R$ 50,00

Edição de 2018 (302 páginas)

Tempo de leitura: entre 10 e 15 dias.

A edição da Tag ficou linda com estas cores que remetem ao pôr do sol no mar, simples e muito bonita. Lombada acompanha a arte da capa, a contracapa também e tem o resumo da história.

Folhas de guarda com uma imagem de uma praia e gaivotas em azul. Na caixinha veio também um marcador combinando e um infográfico com informações sobre o autor e o livro, sugestão de playlist e atrás uma arte com o mapa do caminho percorrido por Asher e Justin.

O corte tem um degradê de cinza e a cada parte do livro tem uma arte que remete tanto a capa listrada quanto a folha de guarda. A edição ainda tem folhas levemente amareladas e uma boa diagramação que torna a leitura muito confortável.

A história começa com a cidadezinha do Tennessee onde moram o pastor Arsher Sharp e sua família sendo assolada por uma enchente terrível, um casal homossexual ajuda a salvar uma mulher da enchente depois de perder própria casa. Arsher oferece abrigo a eles, mas sua esposa os coloca para fora no meio da tempestade. Depois deste evento o pastor começa a perceber o quão preconceituosa é sua esposa e sua congregação e até onde ele como pastor contribuiu para tal. Um tempo depois o mesmo casal passa a frequentar a igreja de Arsher e ele faz um sermão fervoroso sobre tolerância e amor ao próximo. Ao se recusar a expulsar o casal gay da igreja Arsher perde sua congregação seu casamento e seu filho. Completamente desesperado ele irá tomar uma decisão errada e irá viajar para o sul dos EUA em busca de paz, perdão e fé.

A escrita do autor é simples, fluida sem grandes pretensões e em alguns momentos a narrativa chega a ser poética. Silas House apresenta uma escrita extremamente sensível que mesmo quanto toca em temas sensíveis como preconceito e fanatismo não machuca o leitor, mas lhe dá um pequenos toques você reconhece pessoas com quem convive ou já conviveu nos personagens, eles são reais, suas reações são reais e suas dores também.

Southernmost fala muito de amor, o amor do casal homoafetivo que pede abrigo, o amor entre pai e flho, o amor fraternal de Asher manchado de remorso e o amor a Deus. E os altos e baixos da fé. No entanto há um toque de desamor, tanto no casamento de Arsher como na sua congregação, traição, preconceito e ódio.

É também um livro sobre hipocrisia e como, as vezes, é impossível conviver com ela. Em determinado ponto da leitura a narrativa fica lenta, mas esse não é um road book de grandes plots e não é o final que importa mas sim o caminho, e o caminho é muito bonito e traz grandes reflexões para o leitor.

 

Em breve

Logo sairá a resenha de O Príncipe Drácula segundo livro da série Rastro de sangue da Kerri Maniscalco.

Seguem aí algumas primeiras impressões da leitura com as minhas anotações no Diário de leitura

Rastro de Sangue – Jack, o estripador (Resenha)

Autora: Kerri Maniscalco – Tradução: Ana Death Duarte

Editora Darkside (https://www.darksidebooks.com.br/), selo darklove.

Preço médio: R$ 31,90 – R$ 49,90

Edição de 2018 (342 páginas)

Tempo de leitura: entre 15 e 20 dias (mas dá pra ler em menos tempo, eu só leio a noite, geralmente mais de um livro por vez).

 

A edição da Darkside é um show à parte, está lindíssima, capa dura envernizada e com as letras em alto relevo, arte maravilhosa. Lombada com direito a caveirinha de cartola (a caveira é o logo da editora), a contracapa apresenta a protagonista e a história, ilustrada com os instrumentos utilizados por ela.

Folhas de guarda com o mapa de Londres em uma e o mesmo mapa com o bilhete do Jack na segunda.

A edição tem gravuras no começo de cada capitulo, relacionados ao tema neles tratados, além de outros detalhes lindos.

Jack, o estripador é o primeiro livro da série Rastro de Sangue, mas mesmo sendo uma série cada livro tem um encerramento, assim não há necessidade de lê-los em sequência.

A história gira em torno da protagonista Audrey Rose Wadsworth, uma jovem de 17 anos que estuda clandestinamente medicina forense com seu tio, pois sendo de uma família nobre tal interesse seria inadequado para uma mulher, seus estudos acabam se fundindo as investigações sobre o assassino de Whitechapel, bairro na periferia da cidade. E a história nos leva a um passeio pela Londres vitoriana enquanto acompanhamos Audrey e outro pupilo de seu tio na caça pelo assassino de prostitutas, Avental de Couro ou Jack o estripador, que assombrou a cidade no final do século XIX.

A autora fez uma grande pesquisa sobre a era vitoriana, assim as descrições das roupas, lugares e costumes da época nos transportam para 1888 em muitos momentos da leitura. Alias, no final do livro a autora esclarece todas as imprecisões históricas usadas por ela.

A narrativa é boa e se desenvolve bem, no meio do livro há uma queda no ritmo que nos capítulos finais se estabiliza e prende o leitor; não vou negar que o romance em alguns momentos me irritou, é um pouco clichê, mas depois a autora deixa o flerte da protagonista de lado e foca no resto da história. Ela também aproveita para criticar o machismo da época e mostrar como a protagonista usa sua inteligência para burlar as regras da sociedade e buscar o que quer. Mas não pense que Audrey é uma feminista caricaturada, não. Ela é doce, feminina, vaidosa, romântica, forte e só quer poder escolher seu próprio caminho.

Apesar da temática o livro não é pesado, há cenas pesadas mas não são muitas, a narrativa da autora não é crua na descrição dos crimes e isso suaviza bastante estes momentos. É sobretudo uma história sobre luto e como uma família lida com ele e se reestrutura, ou não, depois de uma grande perda.

Dá para ver claramente as inspirações da autora no Sherlock Holmes, Frankenstein e From Hell, com pitadas de romance gótico, com direito a mistérios, passagens secretas, assassinatos e fantasmas, com um casalzinho bem típico do gênero jovem adulto, típico até demais.

É uma leitura divertida em uma edição que decora muito bem a estante, eu não só recomendo como já adquiri o próximo volume.

Vox – é o novo Conta da Aia? (resenha do livro)

Título original: VOX (320 páginas)

Autor: Christina Dalcher – Tradução: Alves Calado

Editora Arqueiro (www.editoraarqueiro.com.br)

Preço médio: R$ 19,90 – R$ 25,00

Tempo de leitura: entre 08 e 10 dias (mas dá pra ler em 03 tardes se você tiver tempo).

Essa edição é de 2018, não é de capa dura, a arte da capa ilustra bem a ideia geral da história, porquanto o X do título é usado fechar a boca da modelo; o título é envernizado, não tem folha de guarda, só algumas críticas na primeira página.

Nas orelhas tem um pequeno extrato da obra com 100 palavras contadas, para ilustrar o quão pouco são 100 palavras e na outra apresentam a autora, na contracapa está escrito apenas “O silencio pode ser ensurdecedor” e a hashtag #100palavras.

A história se passa num futuro próximo em que um grupo cristão radical (chamado de Movimento Puro) tomou o poder nos EUA. A partir daí decretam que TODAS as mulheres só podem falar 100 palavras por dia, para isso elas usam um dispositivo no pulso que fará a contagem e que zera todos os dias à meia noite, caso elas ultrapassem este número o contador dá um choque. É neste mundo que iremos conhecer a história da Jean, a protagonista, que antes das mulheres serem proibidas de trabalhar, ela era neurocientista especializada em afasia e reconhecida em todo mundo por suas pesquisas. Ela é casada e tem 4 filhos e entre eles uma menininha de 5 anos, que também usa o contador no pulso.

A leitura flui muito bem durante quase todo livro, a maioria dos capítulos são curtos, mas do meio para o final a narrativa fica um pouco mais lenta, já nos últimos capítulos a história ganha um ritmo frenético até o final. E apesar de ter achado o final um pouco apressado eu recomendo muito a leitura.

Importante lembrar que o livro é escrito em primeira pessoa, nós só conhecemos a versão da Jean dos fatos e a sua visão das pessoas. Lembrem-se ao ler que um narrador em primeira pessoa NUNCA é confiável. E, assim como em Bird box, a autora usa os flash backs para mostrar como era a vida da protagonista antes de tudo mudar e como a sociedade caminhou para aquilo.

As mulheres falam aproximadamente de 15 a 20 mil palavras por dia e no livro elas podem falar apenas 100, sem gesticular para se comunicar, isso torna o relato extremamente brutal, a narrativa chega a ser claustrofóbica, porque parece que a protagonista está presa dentro de si mesma, tentando desesperadamente se fazer ouvir. É cruel demais vê-la ensinando a sua filhinha a usar o mínimo possível de palavras para não ultrapassar a cota diária. É angustiante e em determinado momento aquele silêncio vai se tornando tão opressivo, que fica realmente ensurdecedor.

VOX é uma distopia como o Conto da Aia e nos dois casos o governo foi tomado por grupos fundamentalistas cristãos, que tiram das mulheres inúmeros direitos, como de votar, ler, escrever, trabalhar etc. No entanto, apesar das premissas similares são histórias diferentes. Por exemplo, em o conto a aia a violência do Estado está muito presente e quase gráfica; já em Vox essa violência fica subentendida no texto, e há uma lavagem cerebral sendo feita nas escolas, nos jovens, para garantir o futuro daquele regime (essa doutrinação nas escolas rende ótimas cenas entre a Jean e seu filho mais velho). Outra diferença é que em Vox as mudanças foram graduais e o Movimento Puro chegou ao poder “legitimamente”.

As histórias tomam rumos diferentes, mas em ambos eu me peguei pensando em vários momentos: será que algo parecido com isso poderia acontecer no mundo? Aqui? E a resposta que me vinha a mente era sim, e isso torna as duas histórias extremamente assustadoras. E como eu disse acima vale a leitura principalmente por mostrar como nós não lutamos pelo que acreditamos, como sempre há algo melhor para fazer do que ficar atento ao cenário político, até o dia que colocam o contador em seu pulso.

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Vox é, sobretudo, um livro sobre inercia, a protagonista  sempre ficou inerte por que achava que nada iria atingi-la.

Em muitos momentos do livro eu senti muita raiva da Jean, achei ela muito egoísta e também achei o romance dela desnecessário, como a narração é em primeira pessoa ela vê o amante como um grande herói, mas as atitudes dele em momento algum me convenceram disso.

Mesmo com algumas criticas Vox é uma ótima leitura que em vários momentos nos assusta, nos faz pensar e, até, temer o futuro.

Impaciência: o mais capital dos pecados

TEXTO PUBLICADO EM ABRIL/2017 NO JORNAL “A PALAVRA”.

 

Graças a Deus, sobrevivi à Quaresma, esse período entre a quarta-feira de Cinzas e a Páscoa, que dedicamos a penitencias e sacrifícios, passei 40 dias sem comer chocolate, sem falar mal dos outros e tentando exercitar a paciência como uma forma de caridade. Desta vez não pedi nada apenas agradeci, mas deveria ter pedido a Deus que brecasse a maldita reforma da previdência, acho que eu terei de trabalhar até morrer, ressuscitar, trabalhar mais uns anos e aí me aposentar. Mas como dizem os mais sábios: se estão te fodendo aceita e relaxa que dói menos.

E como nem todos aceitam essa premissa do “relaxa e goza” no ultimo dia 28 tivemos a tal Greve Geral, que de geral não teve nada, afinal eu trabalhei, e vi muita gente trabalhando também. Havia uma meia dúzia de gatos pingados nas ruas atrapalhando o transito, fechando as pontes e abusando muito da boa vontade alheia. Não tenho nada contra protestos – eu fui nas passeatas para pedir o impeachment do Collor (eu sei, estou ficando velha), com direito a cara pintada e tudo -, mas impedir as pessoas de trafegarem pela cidade e chegarem aos seus trabalhos, vandalismo, agressão, não é lutar por direitos, mas uma violência que não pode ser tolerada.

Voltando a Quaresma, eu aprendi uma coisa importante sobre mim, eu não tenho muita paciência, quase nenhuma, mas se você olhar em volta vai notar que ninguém tem. Estamos praticamente nadando em um mar de impaciência e irritabilidade. Sabe porque? Não é minha culpa por estar sempre irritada ou de mal humor, pelo contrário, meu humor anda ótimo, principalmente agora que voltei a comer chocolate. É porque tem muita gente burra nesse mundo, muita gente abusada e sonsa, gente que faz cagada e continua com aquela “cara de paisagem”, que te dá vontade de virar a mão na cara e mandar a pqp.

Vou dar um exemplo. Outro dia fui ao cinema ver um musical, uma criatura sentou ao meu lado e cantou junto com o filme o tempo inteiro. Eu tossi, eu cocei a garganta, eu fiz xiiiiiiii, tudo para ver se a “anta” percebia que eu não paguei a entrada para ouvir aquela voz de pato rouco no meu ouvido, mas nada adiantou. E o sangue começa a ferver nas suas veias, até que você começa a se imaginar enfiando toda a pipoca goela abaixo da infeliz para ela morrer engasgada, e essa imagem mental faz tão bem… Como eu sou muito bonita para ser presa, evito agressões físicas, eu só virei para o lado e disse: “Cala essa merda de boca que todo mundo aqui já tá de saco cheio!” O pessoal em volta se manifestou concordando e a criaturinha finalmente calou a boca. Isso não é falta de paciência minha, é excesso de burrice dos outros.

E isso acontece o tempo todo. Tenta dirigir na Grande Vitória e se manter zen, é impossível. Em Vila Velha os motoristas andam em cima da faixa como se ela fosse um trilho, devagar como umas lesmas. E agora eu não posso nem xingar ninguém porque dá multa. Em Jardim da Penha as pessoas param para conversar no meio do asfalto, não estou exagerando, é bem no meio da rua. E na Praia do Canto, o povo rico e chique acha que é dono da rua e para o carro no meio dela até para conversar com os amiguinhos e marcar o chope do fim de semana. Sem contar com gente que não dá seta, motociclista cortando pela direita, pedestre atravessando fora da faixa e a passos de formiga, uma vez vi uma velha pulando um “gelo baiano” na Barra do Jucu em vez de usar a passarela. E sabe o que é pior? Se alguém atropelar um infeliz desse, ainda tem que pagar pensão para a família.

E por falar em família, quem neste mundo consegue se manter sereno em reuniões da célula mater da sociedade? Eu não, já chego com pressa de ir embora, para não ter que ouvir todo mundo falando mal de quem está ausente, o tio velho falando que sente saudades da Era Vargas, a fatídica pergunta sobre a minha vida afetiva, que independente de como está, não é para ser assunto do almoço de domingo. Pior que isso só quando perguntam sobre planos futuros de procriação. É de doer.

Outro dia li uma frase de Kafka assim: “Talvez haja apenas um pecado capital: a impaciência. Devido impaciência, fomos expulsos do paraíso; devido a ela, não podemos voltar”. Enfim, não sei se foi exatamente por isso que Eva comeu a tal maçã, mas se realmente for um pecado capital, terei de acrescentá-la a minha lista para aproxima confissão.

Mas o meu esforço sobre-humano para não mandar muita gente pro inferno (sendo super suave) rendeu bons frutos. Exatamente na Páscoa eu encontrei uma cadelinha abandonada na rua, e agora ela é o novo membro da família. Um presente dos céus pelo meu bom comportamento, ou uma forma de Deus me livrar de um infarto (até porque ela me faz caminhar todos os dias).

Quando chego em casa depois de um dia estressante em que a minha paciência foi testada até o limite, onde eu superei cada vontade de simplesmente estourar com as idiotices alheias, os meus animais são as baterias de amor e paz que recarregam as minhas energias. Eles não me cobram nada, não julgam, só me amam e me fazem rir, mesmo quando termino o dia querendo chorar. Então se Páscoa é mesmo renovação e resgate de fé e amor, eu te pergunto: Quem foi mesmo que resgatou quem?

Hamlet – Filme, livro e conselhos

Eu adoro a versão de 1996 de Hamlet dirigido e estrelado pelo Kenneth Branagh alem de ser uma versão muito fiel ao texto original, o filme tem uma fotografia lindíssima e a Kate Winslet está maravilhosa como Ophelia. Tem uma versão em que o Mel Gibson interpreta o Hamlet, mas eu sempre o imaginei com uma postura real, um andar firme e o Mel Gibson não encarnou bem esse ar de realeza que sempre imaginei no personagem. O filme é ótimo e eu recomendo muito, bem como o livro que é muito fininho e rápido de ler e também tem a versão pocket (www.lpm.com.br).

Vendo o filme relembrei os conselhos de Polônio ao seu filho Laerte que é uma das partes mais lindas do livro:

“Vai com a minha bênção, e grava na memória estes preceitos: ‘Não dês língua aos teus próprios pensamentos, nem corpo aos que não forem convenientes’. ‘Sê lhano (sincero/franco), mas evita abastardares-te’. ‘O amigo comprovado, prende-o firme no coração com vínculos de ferro, mas a mão não calejes com saudares a todo instante amigos novos’. ‘Foge de entrar em briga; mas, brigando, acaso, faze o competidor temer-te sempre’. ‘A todos, teu ouvido; a voz a poucos; ouve opiniões, mas forma juízo próprio’. ‘Conforme a bolsa, assim tenhas a roupa: sem fantasia; rica, mas discreta, que o traje às vezes o homem denuncia. Nisso, principalmente, são pichosas as pessoas de classe e prol na França’. ‘Não emprestes nem peças emprestado; que emprestar é perder dinheiro e amigo, e o oposto embota o fio à economia’. ‘Mas, sobretudo, sê a ti próprio fiel; segue-se disso, como o dia à noite, que a ninguém poderás jamais ser falso’. Adeus; que minha bênção tais conselhos faça frutificar”.

 

São conselhos lindos e super atuais que podem ser muito uteis.

Bird Box – Caixa de pássaros – resenha do livro

Editora Intrínseca (www.intrinseca.com.br)

Autor: Josh Malerman

Tradução: Carolina Selvatici

Nº de páginas: 268 (papel do miolo gramatura 70g)

Preço médio: R$ 19,90 – R$ 50,00 (edição de luxo da Amazon)

Tempo de leitura: mais ou menos 06 dias (eu leio bem devagar e só antes de dormir durante a semana, mas dá pra ler em uma ou duas tardes).

A edição que tenho é de janeiro/2019 e vem com uma jacket com a foto da “capa” do filme da netflix com a Malorie e as crianças de olhos vendados na frente e no verso (contracapa) o aviso “Feche os olhos para sobreviver”.

 

Depois tem a capa original, que tem uma arte bonita e sombria, não tem folha de guarda. Nas orelhas tem um pequeno extrato da obra em uma, só o suficiente para atiçar a curiosidade do leitor, e na outra eles apresentam o autor, na contracapa algumas críticas.

No começo de cada capitulo (são 43 no total) há desenhos de galhos que remetem a arte da capa, a diagramação e as folhas levemente amarelas deixam a leitura muito confortável, até para quem usa óculos de leitura como eu.

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A premissa é a mesma do filme da Netflix: No mundo todo pessoas que olham para as “criaturas” (é assim que são chamadas tanto no livro quanto no filme) são levadas a um surto violento que acabará em suicídio. Os poucos sobreviventes devem se manter em casas com janelas cobertas e portas trancadas, caso precisem sair para buscar água ou mantimentos devem sair vendados, nesse cenário é que está Malorie (protagonista) e seus dois filhos buscando um refugio onde se sintam seguros.

Primeiro, se você já viu o filme e acha que o livro será monótono por isso, está errado. O livro é muito diferente e reserva muitos momentos tensos, assustadores e agonizantes melhores que os do filme. Os capítulos são curtos, também intercalando presente e passado, e a leitura é muito fluida.

É um thriller psicológico, não sobre as “criaturas”, mas sobre o comportamento e a personalidade dos personagens, o suspense cresce ao longo da narrativa, diferente do filme, no qual o caos começa nos 5 primeiros minutos. Assim o autor nos apresenta melhor tanto a Malorie quanto a sua irmã Shannon e o leitor acaba se importando mais com elas. O clima do fim do mundo vai aumentando enquanto a esperança vai acabando.

Os personagens são bem construídos, mesmo que o leitor consiga facilmente identificar o vilão e o herói, as personalidades e comportamentos diante daquela situação extrema transitam bem entre o heroísmo, a compaixão, a desonestidade, o egoísmo, o desespero, o terror, a solidão, a saudade, a loucura…

É um livro sensorial, quase tátil, como os personagens não podem ver o leitor “também não”, a maioria das descrições são com texturas, cheiros, ruídos e apesar de parecer impossível contar uma boa história sem descrever o cenário e as ações dos personagens, a habilidade do autor faz disso um elemento a mais no suspense.

O autor nos faz imergir nas sensações dos personagens, assim como eles, nós ficamos sem saber como exatamente determinadas situações aconteceram e isso só acentua o clima sombrio e claustrofóbico que acompanha toda a leitura.

Eu achei o livro muito bom, muito mais assustador que o filme, tem cenas muito fortes que em alguns momentos me deixaram muito apreensiva e angustiada. Lamento que o filme não tenha aproveitado melhor os ótimos sustos que o livro tem.

Dei 3.5 estrelas no Skoob, alias me procura lá: Karynna.Espinoso

 

 

A partir daqui a resenha conterá SPOILERS tanto do livro quanto do filme, então se você não viu o filme ou leu o livro não continue

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No livro não há absolutamente nenhuma explicação do que seriam as tais criaturas, se são ET’s ou sobrenaturais, ou como são, apenas em alguns momentos os personagens sentem sua presença ou esbarram nelas. Inclusive perto do final do livro uma delas tenta tirar a venda da Malorie, o que demonstra que elas teriam “corpos físicos”. No filme eles criam uma atmosfera sobrenatural até com objetos levitando em volta das pessoas e vozes que perseguem a protagonista.

Senti falta dos cães que tem um papel muito importante na história e um deles protagoniza uma das cenas mais assustadoras e tristes do livro. Também achei que o papel dos pássaros foi menosprezado no filme.

Como eu disse acima o autor vai construindo toda a atmosfera de fim dos tempos aos poucos, mostra as noticias no radio e na TV (ele descreve claramente a queda vertiginosa da esperança nos jornalistas), teorias de cientistas e blogueiros especulando o que está havendo, assim demora um bom tempo até o caos efetivamente se instalar, com isso tanto a Malorie quanto a sua irmã Shannon são melhor apresentadas e você acaba se afeiçoando a elas. A morte da Shannon é muito diferente e especialmente dramática na leitura.

O livro começa exatamente como o filme e a nossa primeira reação é: Porque diabos essa mulher é tão malvada com duas crianças pequenas? E isso aconteceu em vários momentos, muitas vezes eu senti raiva da protagonista e da maneira como ela “treinava” as crianças (apesar de ficar muito claro que ela se sente muito mal por maltratá-las) ou como se comportava com os outros membros da casa. Mas a personagem vai amadurecendo ao longo da história, começa muito medrosa, sua coragem é alimentada a cada dificuldade e no final chega ao ápice.

No livro não há aquela discussão sobre maternidade, apenas uma mulher que engravidou por acidente e todas as duvidas sobre a maternidade são intensificadas pela situação.

As pessoas que dividem a casa com a Malorie são bem interessantes, bem como a descrição da deterioração física e mental de cada um.

Por fim, vi muitas resenhas por aí (blogs e youtube), falando do final trágico e sombrio do livro, afirmando que a Malorie e as crianças são obrigadas a se cegarem para viver no abrigo, isso não acontece. Realmente o Rick, líder das pessoas que se abrigam na escola para cegos, conta a ela que há muito tempo, devido a uma falha na segurança as criaturas entraram e varias crianças morreram, então eles decidiram que aqueles que ainda enxergavam deveriam arrancar os olhos, mas isso não acontece quando a Malorie e as crianças chegam lá.

Por enquanto é isso daqui a pouco tem mais.

#CriminalizaSTF #Écrimesim

Vou aproveitar o julgamento polêmico da ADO 26 no STF para postar esse texto que escrevi para o Jornal A Palavra em junho de 2015, quem ler vai ver que à época eu acreditava que as coisas iriam melhorar, mas acho que hoje eu escreveria quase a mesma coisa ou talvez pior.

O ARCO ÍRIS NO DIA DOS NAMORADOS

O mês de junho veio e quase se foi e com ele o dia dos namorados, um dos dias mais românticos e comerciais do ano, também dia de postar declarações de amor melosas no Facebook e fotos de presentes. Declarações públicas de afeto e presentes são o melhor afrodisíaco para mulheres de baixa autoestima e os homens sabem disso. Então mesmo que a relação não esteja lá muito boa (comemora-se a data), seja para mostrar ao mundo o quanto se está “feliz”, seja para ganhar uma “rapidinha” ou sexo bêbado da parceira zangada. Parece mesmo que o amor está no ar e o sexo por toda parte. Mas de todos os meses de junho que já vivi este talvez seja o mês dos amores e “sexos” mais polêmicos.

Então enquanto as boas moças e famílias tradicionais estampavam os seus presentes nas redes sociais. Esta colunista, nada tradicional, apreciava uma encorpada cerveja artesanal ouvindo o Jimmy Page e meditava sobre a coluna, mas resisti ao desejo de escrever sobre as aventuras, a diversão e alguns outros benefícios da vida de solteira de alguém que não almeja o titulo de boa moça e que não é tradicional. No momento não me parece uma boa idéia, quem sabe um dia, quando o meu pai idoso  não for o meu primeiro revisor.

Também meditava sobre o amor, para ser mais exata sobre todo ódio que o amor vem gerando. Como diz a música toda forma de amor é justa. Infelizmente, não é bem assim. A sexualidade considerada não convencional desperta a ira e a violência em alguns. Um bom exemplo disso foi a reação negativa e exagerada ao inocente comercial do Boticário para o Dia dos Namorados, que mostrou todos os tipos de casais trocando presentes na data romântica. Logo a internet se encheu de comentários agressivos e homofóbicos e até uma proposta de boicote a empresa. Sinceramente, não vi o porquê de tanto barulho, o anuncio foi sútil, leve e muito elegante.

Cá entre nós, ultimamente, esta questão tem sido motivo de polemica todo dia, basta um beijo gay entre senhoras na novela, para aparecer duas dúzias de “defensores da família tradicional” para profanar nossos ouvidos com seus comentários intolerantes. E eu? Vou continuar comprando no Boticário.

Ainda no mês de junho, entre flores e juras de amor, tivemos a polêmica da transsexual que desfilou na Parada do Orgulho Gay em São Paulo “crucificada”, numa alusão inconfundível a imagem de Jesus. Pronto! Bastou isto para que explodissem agressões verbais e até ameaças de morte, via internet, a pobre moça, que explicou depois que assim como Cristo centenas de homossexuais inocentes são humilhados, espancados e mortos todos os dias. Nem vou comentar a hipocrisia daqueles que se dizem cristãos serem os primeiros “apedrejá-la” (será que todos tem a alma imaculada?).

É claro que não há leveza na imagem, pelo contrario, é bem forte. Mas para chamar a atenção para grandes causas é preciso fazer muito barulho, no ano passado o Brasil liderava o ranking mundial de crimes de ódio contra a comunidade LGBT, segundo dados da International Lesbian and Gay Association (ILGA). Não é isso que a arte deveria fazer nos emocionar de alguma forma, nos sacudir de nossos marasmos, nos arrancar do torpor cotidiano para refletirmos.

Se achei a imagem forte? Sim. Ofensiva? Não. Eu entendi a intenção da artista tentando mostrar as injustiças cometidas todos os dias. Talvez sua intenção fosse mostrar que assim como fizeram com Cristo nós assistimos a isso e continuamos calados, não protestamos, não nos mobilizamos e muitas vezes sequer nos comovemos apenas deixamos o mal se alastrar. Enquanto ele não nos atinge, não é problema nosso, né?

Não vou tecer comentários sobre o quanto esse preconceito é burro e sem sentido, nem sobre discrepância absurda que há em lideres religiosos propagarem discursos de ódio. Até porque para mim a questão é muito mais simples: com quem as pessoas se relacionam ou com quem transam realmente não me importa, seja com pessoas do mesmo sexo, sexo oposto ou com ambos ao mesmo tempo. Nunca me importei com o que ninguém faz na privacidade do quarto, não é isso que delimita sua personalidade, nem sua maneira de viver e amar ou de lidar com as pessoas a sua volta. Em síntese, o que se faz sob os lençóis, desde que haja consentimento de todos envolvidos, não define o caráter de uma pessoa.

Creio que coisas ruins, preconceitos e crueldade normalmente nascem de atitudes que as pessoas julgam inofensivas. Frases supostamente ingênuas como: “menino não pode ser maricas”; “o fulano é um veadinho”; “eu adoro meu amigo gay, mas se fosse um filho meu, não aceitaria ou morreria de desgosto” e tantas outras cretinices. Pensem no efeito disso em mentes frágeis. A definição de padrões do que é ou não normal, certo ou errado passa de geração em geração para ouvidos de crianças que ainda não tem a personalidade formada, que acreditam que os seus parentes sabem o que dizem, e assim aos poucos se cria um ser monstruoso cheio de ódio e preconceitos que acabará agredindo o desconhecido só porque o acha diferente.

Só para deixar claro: homossexuais não precisam de aceitação, mas de respeito; apoiar seus preconceitos na religião não só a diminui como mostra a covardia de quem se esconde atrás de interpretações absurdas de um livro antigo; e, por fim, se o seu Deus me negaria o céu devido a como ou com quem eu faço sexo, eu não quero este céu.

Então eu espero que venham muitos meses de junho na minha vida, seja com romance e rosas ou com diversão e cerveja, não importa. Que nos próximos o mundo esteja um pouco melhor para que eu não perca a minha fé na humanidade. Espero que, finalmente, as pessoas entendam que diante dos inúmeros perigos que rondam aqueles que amamos todos os dias, tudo o que importa é a vida e que ela seja leve e feliz, independente do que ocorre no intimo de nossas vidas amorosas ou sexuais.

E para os “tradicionais” que insistem em suas opiniões tacanhas, preconceitos tolos, certezas vãs e ódios tóxicos eu lhes trago à oração que o Cazuza nos ensinou: “Vamos pedir piedade. Senhor, piedade! Pra essa gente careta e covarde.”